domingo, 22 de janeiro de 2012

Profecia


"De tanto amar, agora amargo."

Cinéias Santos

Nunca mais, nunca mais, repetiu incontáveis vezes. Nunca mais confiar, nunca mais acreditar, nunca mais me permitir, repetiu inúmeras vezes. Foi em uma não permissão que a vida escancarou diante dos olhos a oportunidade tão cálida quanto sincera. Mas era tarde. Era tarde? Que pergunta era essa? Possibilidades não existiam. Ele não se permitia esta possibilidade. Pelo menos não mais. Não foi opção dele descobrir que confiar é um erro, sempre. Não foi uma opção dele aprender que o amor é lindo, mas não existe, pelo menos não para ele. Não foi opção dele que jamais conseguisse amar alguém como amara aquela mentira que criara em sua mente. Mais infame do que ser traído todas as vezes pelo seu próprio coração, era continuar dando chances a ele. Mais maculada do que sua alma, era sua esperança. Lembrou-se bem, a única coisa que conseguiu com borboletas no estômago foi náusea. Então, já bastava. Não mais acreditar, não mais esperar, não mais se permitir. Não foi opção dele que a paixão na vida dele fosse tão irônica quanto a possibilidade do eterno, uma efemeridade. Da mesma forma, não foi opção dele que o amor que ele esperava aparecesse quando ele não queria poderia acreditar. Nunca mais, nunca mais, repetiu incontáveis vezes. Mal sabia que desta vez a profecia se cumpriria.

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