quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Baile de Máscaras


Qual a sua máscara deste carnaval? Resolveu sair, beber e dançar para mostrar que está bem? Resolveu ficar em casa, e louvou esta escolha, mesmo sabendo que foi imposição e não escolha? Ligou a televisão dizendo que não tinha o que fazer para disfarçar a sede do fútil? Desligou a televisão para manter o intelectualismo, mas não suporta sua própria e única companhia? Então no tempo em que vale tudo, pensar, refletir e mudar também vale? Ou não? Vamos deixar para a virada de ano que é o tempo certo, não é? Mais ou menos assim: natal é tempo de sermos falsos generosos, ano-novo é tempo de mudar, semana santa vamos brincar de religião e carnaval... Bom, se é carnaval, vamos ser inconsequentes! Seria isso? Assim, eu imagino que aqueles bailes em que a diversão maior era estar colorido e pular ao som de marchinhas tinha seu valor. Era como brincar, de verdade. E brincar é bom. Hoje a máscara é colocada ao mesmo tempo em que a vergonha roupa é tirada. Se você gosta deste novo formato de carnaval, eu respeito. Não seria mal respeitar a mim, que não gosto. Então, abre alas, que eu quero passar: o superficial não me atrai, eu gosto de intimidade. Todo mundo não importa, eu prefiro cada um. Inconsequência não! Gosto de erro/ou acerto consciente. Eu escolho o que fazer e a culpa é minha. Ora! Vou sair na avenida no dia que o coração for mais importante que o silicone em cima dele. No dia em que a alegria for genuína e nenhuma vida estiver em risco para isso. Que cada um aproveite com a máscara que escolher. Eu preferi tirar a minha. Para mim, a folia é mais gostosa assim.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amarelo


Depois que você chegou eu gosto mais de amarelo. Sempre fui de tons mais fechados, cores sóbrias e neutras. Isso quando não assumia o branco de dias nublados. Dias brancos sempre foram meus preferidos, talvez pela melancolia das nuvens bem juntas. Mas depois que você chegou os dias amarelos ficaram mais amigos. É uma coisa mais solar, um jeito mais alegre. Você trouxe um pouco de distração, uma quase preguiça. Era o que faltava, era o recheio, o meio. Hoje acho que a claridade pode ser tão confortável quanto a sombra. Amar, mar, elo. Depois que você chegou eu gosto mais do mar, de amar. Consigo ver um pouco de amarelo no canto do sorriso, vejo melhor a luz - amarela - da lua e sinto com afeto o sol matinal me abraçar generosamente. Você aprendeu o aconchego dos meus dias brancos e eu aprendi a disposição dos teus dias amarelos - e todas as implicações das cores em nossos olhares. Sei que existem outros tons e cores, mas o que pode ser mais alegre que o amarelo?! É tudo luz, é tudo brilho. O passo anda mais solto, as mãos mais espertas e os sentimentos mais livres. Depois que você chegou eu gosto mais de amarelo. Gosto mais do mar. Gosto mais de amar. Gosto mais de você. E gosto mais de mim.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Não me faltam,me sobram

São tantas palavras... Não me faltam, me sobram... O silêncio é pertinente e na medida exata. Para que não seja bom e/ou ruim, mas equilibrado. EQUILÍBRIO. Talvez fosse melhor reagir positiva ou negativamente a tudo. Sentir amor pode romantizar tudo. Sentir ódio pode nos instigar. E se não se torna definitivo, pode ser um bom começo. Mas atualmente não. Atualmente estou como voyeur da minha própria vida. E o silêncio é permanente, mas de onde fluem palavras. Que no seu ritmo próprio não me incomodam, nem inquietam, nem preocupam. Sou eu que estou lá sorrindo, abraçando, escrevendo; mas ausente. Bem de longe. Só observando meus dias passarem, e como a vida prossegue quando se é obrigada a encarar a realidade. Sim. Meu silêncio fala. E a mim não têm perturbado. Acautela. Consola. Abraça e acolhe. Eu sempre falei pouco. Hoje não falo nada. Não me entrego. E não é trauma. Não é medo. Nem resignação. Simplesmente sou/estou assim. Não sou falso. Nem estou vivendo um personagem. Mas, por vezes, visualizo meu passado, presente e futuro como uma terceira pessoa que narra os fatos de uma personagem que (não) criou e nem sabe o roteiro da história, então se torna indizível, o que remete ao silêncio. Estou em meu mundo subjetivo; mas não como uma forma de me iludir. Só é daqui que, embora seja obrigado a passar por todas as experiências cruéis e (des)necessárias da vida, minha essência continua intocável. Meu coração imaculado. Terão ou minhas palavras ou meus silêncios. Terão metade. E, por enquanto, é tudo que podem ter. Revoltem-se ou contentem-se. Se acharem absurdo, desprezível, ridículo ou patético, cá estará eu, observando as reações e narrando minha vida.Narrando minha vida, cada passo, cada ação, cada palavra. E silenciando, quando só os olhos podem captar a mensagem. Só o coração pode sentir a fluência das emoções e das razões. E então de nada adianta as palavras, elas puramente se tornam desnecessárias.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Por Hora

Acho até bonita esta sobriedade que tem sido alimentada. Isso é ser gente grande, então? Chega a ser bonito seus olhos tentando ter menos brilho, para ter mais sabedoria. Acho bonito começar a colocar em prática esse plano, o de não fazer planos. Mas confesso que olhando bem, o brilho continua muito forte. No entanto, mais intimista, não menos convidativo, e surpreendentemente, mais generoso. Talvez seja esse aquele amor que dissemos tanto que viria para ti. Ou talvez não. A aceitação da alternância agora também brilha nos olhos. Talvez seja adulto conseguir rir do que a pouco foi tão doloroso, mas teve seu valor. Percebo, a cada dia mais, a liberdade é o vínculo mais forte que pode existir entre os corações. ‘Há uma calma que não condiz com a nossa pressa’. Não é falta de desejo, é o compromisso com o que se quer - que vai além de quem se quer. Somos o que fazemos, não é? Só em você essa verdade me alivia. Sigo os mesmos passos e, aceito tua verdade, não há paradoxo em ser livre e estar acompanhado. Inspiro-me em Lispector e atrevo-me a dizer que o que queremos não é liberdade, o que queremos ainda não tem nome. Mas de alguma forma já está por aqui.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

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“E quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia: fechada, sozinha, perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada”. Caio Fernando Abreu

Sente aqui, vida. Vamos conversar. Tens teus direitos, és mantenedora e a única legitimidade que me permite estar aqui. Mas também devo ter os meus. E se não os tinha, eu os criarei de agora em diante. Pois já chega de brincar com os sentimentos alheios, já chega de tirar o chão quando a brincadeira está ficando boa. Não me ameace mais, por favor. Mal posso imaginar seus olhos indiferentes, frios às minhas lágrimas e meus pedidos. Não me faça acreditar que somos merecedores, nem me faça te desafiar sabendo que vou perder. Ah não, vida, não ria assim de mim. Seja benevolente, o mínimo que consiga, e me deixa conseguir um pouquinho do que preciso, e tens relutantemente me tirado. Não me deixe nesta solidão de sentimentos. Não me olhe assim! Não, não. Não vira as costas para mim. Pode me olhar, então. É preferível ao significado de total indiferença que tuas costas me trazem. Eu gosto de você. Não estou apelando, mas bem que poderia ser. Pode me levantar nos braços, tirar os meus pés do chão, mas me devolva, por favor. Não me deixa pagar pelas escolhas deles. Alivia um instante que seja. Permita-me buscar o ar e, pronto, volto para a sua brincadeira. Esta, a que desde o começo dos dias fui obrigado a brincar. Quando cansar, vida, já pode parar. Eu já quero descer.

Fim



Entendo quando é chegado o fim. Aceito o ponto final, o fechar das cortinas. Em meio aos aplausos e aos olhos inundados compreendo que a nostalgia é o que resta. Sinto um fim se aproximando. Sinto que algumas coisas já estão virando lembranças e meu olhar já denuncia despedida. Depois ouvirei rumores do quanto é possível ser insensível a perdas. Bobagem dos que não sabem virar páginas. Viro a página. Visualizo o fim. O espetáculo mergulha em solidão, no silêncio do que foi bonito e bonito, se foi.