sábado, 28 de julho de 2012

O que seria um bom dia cheio de cores, sabores e texturas, soa como um gesto de educação, que é dispensável quando causa mais dor que encanto. Era correr para o abraço, se jogar nas emoções e não ter limites para a entrega. Sem o menor sinal disto, transforma-se num aperto de mãos, tão inútil quanto álgido. Era a alegria, que levava letras e risos em cada declaração. Restou o silêncio, que nem sabia existir. Era o indisfarçável. Vira o sem luz. Era o palpitar do coração, que se transforma na distância incalculável de alguns passos. Era o eterno que – não se sabia – pode ter um fim.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Começo

Salvador, 23 de Julho de 2012 entre 12:00 e 14:00

Estava inebriado. Cambaleavam todas as loucuras sonhadas. Estava em sonhos. Eram possíveis. Fazia de seu presente, lembrança. Fazia das lembranças, presentes. Seguia entre sonho e realidade. Brincava, obedecendo ao poeta. ‘Um dia serei feliz? Sim, mas não há de ser já: A Eternidade está longe, brinca de tempo-será.’ Brincava com a astúcia de quem conhece a dor, de quem sabe que tudo que a gente quer passa. Que esperar é quase sinônimo de superação. E que amor e liberdade são sinônimos, fora do dicionário. Que o único alívio é um carinho. Que existem tragédias, romances, drama, comédia, mas nada disso de forma independente. Que somos tantas faces, que somos tão possíveis. Que não há ninguém que nos impeça e nos permita mais do que nós mesmos. Que qualquer coisa só nos magoa uma vez de surpresa, o resto é escolha. Que qualquer silêncio é melhor que uma palavra doída. E que nenhuma palavra é melhor que um abraço bonito. Que quem fala de amor carrega mais esperança que certezas. E que utopia é acreditar que amor é ilusão e mesmo assim se pode ser feliz. Que as únicas coisas de que se necessita são indissociáveis do corpo. E nenhuma pessoa, nenhum lugar ou nenhuma situação pode ser escape para um coração em desespero. Sabia que todo dia a esperança se renovava, mas ver nos olhos, no clima e nas roupas de todos que a esperança transbordava neste dia exato, pintava a alma de branco e trazia a sensação de que agora sim, agora a gente podia começar outra vez.

Pequeno delírio em meu horário de almoço.


terça-feira, 17 de julho de 2012

A porta


Fulge escuridão. Um medo disfarçado bate à porta. Insiste, insiste. Ela não pode abrir. Não há compaixão que supere o medo. A melancolia acorda, invade com o morno sorriso do que - já passado - não a abandona. Pela janela vê a esperança, cabelos ao vento. Já vai distante. Esperança e passado não se acertam. Quando ele sair daqui, pois sim, ela volta. O sol alto... Cá a escuridão brilha.

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta.

(E agora, José? – Drummond)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Esperem

Qualquer dia desses, ao sair do sol em sua beleza insuperável, não estarei mais aqui. Preciso sair deste lugar onde me encontro. Por vezes sinto vacilar as pernas no real, tanto quanto no pesadelo desta noite. Já não suporto a ausência de sustos diante das perfídias desta vida. Preciso resgatar aquela indignação típica de corações imaculados. Ah, eu não sei jogar. Os joguinhos a que somos obrigados a jogar não me atraem, e quando me obrigo, eu perco sempre. E não é ruim perder sempre, mas não saber jogar nunca. Não sei se vou buscar aprender a jogar ou a não me obrigar a isso em hipótese alguma. Prometo que na primeira oportunidade que tiver mando um recado por um pombo, um sinal de fumaça, ou um telegrama. Sentirei falta de tudo que fizemos e, principalmente, do que não fizemos. Não sei para onde vou. Na verdade, não tenho destino, nem opções. Mas eu quero sair daqui. Se perguntasse ao gato, a resposta seria aquela certeira: Então, pouco importa o caminho que você tome. E ele tem razão, sabemos. Então sem saber o que quero, embora saiba que quero muito, vou buscar por saber o que não quero. Preciso ir para não perder-me. Para não perder-me de mim mesmo. Voltarei quando o riso estiver sem pecados e os pecados sem culpas. Contradição? A própria. Na volta vou bater palmas na porta e correr ao abraço que já está ensaiado. E quando eu for, esperem minha volta, em qualquer tarde branca, em qualquer dia escolhido para nós.

De novo



Quero novos ares, novos mares e novos lares. Outros abraços, novos braços. Outras vontades, novos cheiros, novas bondades, outros beijos. Quero novos olhares, outros sonhos. Novos andares, outros ganhos. Quero algum sorriso, algum abrigo, algum amigo. Alguma rima, qualquer verso, nova sina. Quero um tempo, outros sabores, outras texturas, quaisquer amores. Quero novos passos, nova música, outros luares, novas buscas. Quero tudo a mim denovo.



sábado, 7 de julho de 2012

Esperança

Eu tenho esperança. Tudo bem, todo mundo tem esperança. Mas é que a minha esperança, às vezes, é tão audaciosa que é quase ofensiva. A intenção não é essa. Minha esperança não é somente um sonho romântico, não recuso a realidade ou me iludo. Antes é o último suspiro, a única forma de sobrevivência. É a única coisa que me faz suportar as muitas aflições de todos os dias e ainda conseguir sorrir para o porteiro ao cumprimentá-lo. Quando sorrio para ele estou rindo para mim mesmo. Estou me desejando força no meio de todas as coisas ruins que nos cercam. Estou desejando que eu consiga manter a fé ou que alguém me mostre que a justiça é possível, apesar de tudo. Levo a esperança sonhando com o que não vejo, acreditando em quem – talvez - não mereça mais confiança. Não se trata da ingenuidade de quem não pode ver a realidade. Trata-se, na verdade, da generosidade de não se deixar abater. Preciso acreditar para continuar levantando, para continuar sorrindo. É minha forma de viver. Mais do que isso, é minha forma de continuar vivo.