sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Primeira Pessoa

Eu estou silêncio. Ando em profunda quietude. Desconstruindo os impossíveis, reaprendendo o possível. De poesia tenho o pão quentinho que alivia o cansaço do dia e me faz divagar que sempre há algo bom, pequeno ou grande. Eu estou ausência. Ando em profundo segredo. Permito-me a poucos. Eu estou resignação. Ando em profunda humildade. Aceito da vida a incerteza dos dias e respiro a esperança de amar sempre melhor daqui a alguns minutos. Eu estou repouso. Ando em profunda calmaria. Mergulhado lá no fundo da alma. Quieto, admiro os fatos surpreendendo-me sem sustos. Eu estou palavras. Ando em profundas citações. Coleciono aforismos e gargalho subjugando máximas. Troco de verdade todos os dias. Essa é a de hoje. Eu estou liberdade. Ando em profundo alívio. Experimento sabores e cores. Tenho companhia. Eu estou cumplicidade. Ando em profundo compartilhar. É carinho e seus sinônimos. Eu estou paciência. Ando em profunda espera. Vai passar. Caminho devagar. Estou voltando. Devagar, devagarzinho. Ando tão diminuitivo. Eu estou sentir. Ando emoções. Que se expandem, ganham proporções absurdas e depois se vão. Quase sempre sem saudades. Eu estou diferenças. Ando me desconhecendo. E me reconhecendo, principalmente. Eu estou saudades. É meu termômetro favorito. E eu me sei amor. Eu estou resiliência. Ando resoluções. E faço-me despedida. Assim seja.

sábado, 5 de novembro de 2011

Pra Você que não me ler.

Lá vai. Este é meu primeiro texto pra você. Justo pra você que não me lê. Que acha que eu devo largar essa coisa de poesia e romance, você que acha que isso me faz mal. Você que lê meus cadernos de rascunhos, meus textos brutos. Você com toda essa sinceridade merece a minha sinceridade também. Embora você tenha entendido tudo errado da única vez em que eu disse que te amo. E eu tive que ficar uma semana tentando te convencer que era amor de amigo, que inclusive é o mais puro amor que eu consigo sentir por alguém, aliás, talvez seja o único amor que eu sei sentir.

Escrevo pra você. Pra você que odeia as músicas que eu ouço. Que não gosta dos filmes que eu vejo. Que me obriga a assistir filmes de terror, que me liga de madrugada pra dizer que ganhou no jogo de cartas que acabou de terminar. Pra você que me deixa dormir na cama maior, que sempre me dá os presentes perfeitos, que fez questão de esquecer que eu te fiz sofrer. Você que me liga pra contar que está namorando, justo pra mim que demorei meses pra te contar que estava, mas que te liguei assim que não estava mais. Pra você que me atende na sala de aula, no meio do expediente do trabalho, pra você que diz pra tentar ser feliz, e esquecer o que passou. Pra você que me ouve te ligar chorando, e que sempre me faz rir antes de desligar.

Eu, estou aqui. Te escrevendo, lendo nossa relação pelas minhas palavras. Você que me abraça forte, uma, duas, três vezes seguidas e eu nem preciso dizer porque estava com tanta saudade de um abraço forte. Você que reclama da minha comida, mas tem vindo almoçar comigo toda semana. Você que desconfia que eu te amei desde o começo, e não sabe que eu te detestei quando te conheci. Você que fez comigo um pacto de não nos apaixonarmos e de nunca ficarmos, e você que me fez descumprir o pacto mais idiota que eu fiz na minha vida. Você que me escreve pra saber como está o sol, como foi a viagem, como vai minha procura por trabalho. Você que deixa seu cheiro em meus dedos depois do abraço, que me diz quase toda semana “tudo isso é pra você, admita”, você que eu acho que me ama sem saber, você que eu já achei que amava um dia. É para você que eu escrevo, e eu queria que alguém como você fosse o personagem principal dos meus textos, mas alguém como você não existe. E te escrever é o que posso fazer, este é meu primeiro texto sobre e para você, que não lê o que eu escrevo, mas lê minha alma e meus desejos.