sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Das despedidas, resoluções e outras coisas



Do ano que passou me restou a satisfação do sonho realizadíssimo, assim, superlativo. Despeço-me sem pesares. Das resoluções, quero mais presenças. E flores na varanda. No mais, paz. Faz alguns dias descobri que solidão é não amar. Dos silêncios tenho pausas longas, intermináveis. Pausa é tempo. Silêncio também compõe música. Um dia desses caminhei de olhos fechados. Foi bom, sabe? Não sei se pelo vento que afagou os cabelos ou pela vulnerabilidade consentida. Tenho convivido bem com isso atualmente. Estou completamente desconstruído do passado, de mim mesmo, deles. Não insinuo, já disse, tenho primeiras, segundas, terceiras intenções. Depende dos olhos de quem sente. Sumirei, até por tempos longos, e pode ser de propósito. Rio amarelo. Amaria se pudesse viver uma coisa simples, sem ares de imutabilidade. Amaria que fosse chegado o tempo, sutilmente. E chegou de mansinho, antes de o trem partir. Foi bonito. Uma desconfiança: o calendário terminou ou fomos nós que começamos? Quem lê, entenda.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Baboseira Natalina


Aqui onde eu moro a noite está linda. Tem aquela mistura de estrelas cobertas por névoas que anunciam a chegada de uma chuva logo logo. Tem um mundaréu de carros , porque as pessoas querem sair pra ver o natal . A dona primeira-dama investe pesado na decoração e do lado da igreja tem um gramado com passeio que está abarrotado de enfeites natalinos. Nada de bolinhas vermelhas e douradas, nada dessa coisa brega.

Ali tem soldados de chumbo enormes, casinhas tamanho família, globos iluminados, anjos, renas, carruagens e o escambau. E tem muita, muita luz. Dá até pra sair usando óculos de sol, de tanta luz que atravessa as retinas. Tem boneco de neve e tem até neve caindo o tempo todo, vejam só, em pleno verão. Espalharam até pedrinhas brancas pelo chão pra parecer real. As crianças olham maravilhadas e erguem seus bracinhos e rodopiam e riem e acreditam que estão na vila do Papai-Noel. E eu fico prestando atenção, tirando fotos com a câmera profissional pra poder usar no portfolio depois.

E pensando aqui no fundo, com certa vergonha, que eu morro de vontade de ser o merda que estraga tudo e diz: "Seus trouxas, estão vendo aquela máquina escondida ali atrás? Sua neve vem dali, e é só a porcaria de uma espuma. Vão pra escola aprender que é muito raro nevar no Brasil. E que nevar no verão é impossível". E aí uma risada de escárnio. Isso tudo na minha cabeça. Na vida real eu fico só olhando. Tentando encontrar o tal espírito de natal. Mas sabe como é, eu não tenho mais isso não. Não dá pra ter espírito de uma coisa comercial. Sei lá, vai ver eu sou mão-de-vaca e não consigo aderir à mais uma data criada pra gente ter que gastar com presentes e pinheiros. Ou talvez seja só a minha fé. Eu tô tentando, beleza? Tô parado aqui no sofá, tentando absorver por osmose um pouquinho dessa pureza toda. Mas acho cada vez mais patético, infelizmente.

Não sei quanto tempo faz que não acredito em natal e Noel, mas sei que há anos fico pra lá de satisfeito passando essa noite em casa, com uma taça  na mão e o show anual do Roberto Carlos na tv. Sem barulho, sem abraço, sem ceia e sem falsidade. Sinto falta da vó, com seus cachinhos lindos; do vô, com seu jeitão amável; da madrinha que é meu exemplo de vida; da tia que tem a letra igualzinha à minha. Mas prefiro abraçar cada um deles em dias comuns, quando o abraço é simplesmente um gesto de amor verdadeiro e não algo que a gente se sente compelido a fazer porque a indústria diz que é o momento de abraçar e chorar e cantar musiquinhas.

Se eu acreditasse que lá no Pólo Norte existe um cara barbudo de verdade que voa pelo mundo com suas renas aladas, eu escreveria uma carta também. Diria que este ano fui um bom menino, que não fiz maldades, que vivi minha vidinha sem me preocupar com a dos outros - ainda que os outros se preocupem muito com a minha - e que não magoei ninguém, porque não deixei que alguém se aproximasse o bastante para que pudesse ser magoado.

Viver meio excluso é o jeito mais fácil de não sofrer. E pela primeira vez na minha vida, este ano optei pelos caminhos mais fáceis a maior parte do tempo. Se fosse pedir alguma coisa a alguém, não seria um iphone, nem sapatos, nem um vale compras na Colcci. Eu pediria um pouco de amor sincero, um em que não entregasse meu coração cheio de cicatrizes para quem só quer praticar embaixadinhas com ele. Um em que meu corpo fosse só a caixinha onde fica guardada a parte essencial, e não a única e exclusiva vantagem do relacionamento. Um amor onde alguém  percebesse que amar não é uma desonra, e que eu fosse muito mais importante do que  o povo da balada que agente deixaria de levar pra casa. Um empurrãozinho pra fazer a coisa toda andar mais na velocidade de trem bala e menos de carroça de sítio. E se nada disso fosse plausível, então eu pediria que a parte em mim que ainda acredita em amor fosse finalmente extinta. Que eu terminasse meu processo de fortalecimento porque, segundo Nietzche, o que não mata nos fortalece. Mas eu tô cansado de crescer, de fortalecer, de transformar em sólido o que deveria ser líquido. Cresci o suficiente, já podem desligar a máquina. Eu ficaria feliz com uns quinze centímetros a mais de altura, mas crescer à base de pancadas já deu o que tinha que dar. É isso, eu pediria ao senhor Noel um pouco de redução. Diminuir para caber. Chega de calças apertadas e abraços que não encaixam. Quero reduzir medidas, reduzir feridas, reduzir tentativas frustradas. Reduzir estômago pra sobrar menos espaço para embrulhar, cortar fora a parte que ama e sonha e não consegue deixar de esperar. Diminuir tudo até que fosse tão minúsculo que um pisão esmagasse para sempre.

Mas sendo o velho Noel ficção, não tenho para quem pedir amor ou redução. Porque amor não se pede, não é um presente embrulhado e disposto embaixo da árvore. E redução não se ganha, desenvolve-se. Não é possível amar em um minuto e não amar mais no seguinte. É um processo lento. Ceticismo é um dom, mas é preciso alimentá-lo. Independente de quantas cartas forem escritas e de quem forem os destinários, no final nossos pedidos só dependem de nós. Ou, quando pedimos amor, de nós e de mais alguém. Mas então, se eu tiver que optar por um caminho, vai ser o da redução, porque poxa, falta muito pouco para não sobrar nada de mim que não esteja contaminado por sarcasmo. São só mais alguns passos. Só mais um pouquinho e chego no topo do morro, uma perfeita muralha construída ao meu redor. É por aí que eu vou.Eu quero uma companhia, por favor.Essa é uma estrada cheia de pedágios e eles são tristes demais para que eu arraste alguém comigo eu sei, mas será pedir demais ter alguém comigo que queira arriscar? Tô bem com a minha mochila vermelha nas costas. Não vem com essa de "volta pra cá, não vai por aí que aí só tem escuridão e solidão e desespero". Não me enche com histórias sobre o espírito de natal, tempo de querer ajudar. Espírito de natal o caramba, falou?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Chance nº 880

voa coração. ou então arde" (Eugénio de Andrade)

São presenças que vão se tornando lembranças. Abraços que viram poesia no coração ao mesmo tempo em que acontecem. É que ele começa a arrumar as malas e começa por dentro. Faz dias retira excessos e, surpreso, era quase tudo excesso. Foi quem partiu muito depois do que deveria, foi quem voltou quando não mais se fazia necessário. Foi quem apareceu tarde. Foi quem finalmente surgiu. Foi o tempo dedicado. O tempo perdido. Foi. É tempo. De esvaziar o coração para se preparar para o novo, de guardar o que se deve guardar, se é que se pode. Finalmente começa a brilhar uma luz no fim do túnel quando ele já estava gostando do escuro. Ou se acostumando, tanto faz. São palavras que se moldam novas, castas, como jamais existiram. É que tem nas mãos a chance. Uma chance bonita, sonhada. E uma pressa de viver definitiva. Porque a oportunidade tão esperada já espreita muito perto. E agora ele se despe de todos os pretextos e vai.

sábado, 17 de dezembro de 2011

O Carinho dos sentimentos expressos

-Não sei por que você me ama!

Devo dizer que perdi a conta de quantas vezes ouvi essa frase. E fico em meus pensamentos tentando entender se pertenço a uma raça superior por realmente conseguir amar pessoas que “teoricamente” não mereciam meu amor. E alguém merece?! Asseguro, hoje, sem medo: o amor que eu expresso não vem de mim. Não resistiria. Não seria tão altruísta, abnegado e puro. É um amor que eu recebo e, por transferência, sem o mínimo esforço, mas algumas vezes mais intensamente, por escolha, passo adiante. Isso explica a naturalidade com que meus sentimentos, e escolhas, se apresentam, derramam, exalam. Está decretado: eu amo! Amo bem simples porque é assim o amor que recebo. É isso que o amor é para mim. Simplicidade. Tranqüilidade. Paz. Nada. Ninguém, nem situação alguma podem tirar a simplicidade do amor, a não ser que permita. E não permita!!! Por mais novo que possa ser o carinho destilado pelos sentimentos verdadeiros expressos. Amor é deliciosamente puro e natural. Amor não pede nada. Não espera reciprocidade, embora possa desejar. Ele é lindo, ainda que sozinho. Porque ele é completo. Não precisa de uma cara metade, não precisa de outro para completá-lo. Amor é inteiro. E o amor que sinto, independe de pessoa, distância, ações, escolhas ou tempo. E só eu sei por quê.

Solidão

Naquele dia a solidão me abraçou outra vez. Desta vez mais abusada. Abraçou-me, atrevida, em meio de todos eles. Eu falava e disfarçava, mas ela já espreitava prometendo que não me deixaria. E não me deixou. Irônica. Nos seus braços, mais uma vez compreendi o quanto é bondosa em não me deixar esquecer. É a solidão que me ensina que não posso ser metade, preciso ser inteiro. É ela que me livra, ao prender-me a mim, ensinando-me a aceitar esta condição de liberdade absoluta. É ela que me faz independente. Leve impressão de que ela me deu um tempo e vai lentamente afastando-se, despedindo-se com o toque em minhas mãos. Em seus olhos, a sempre certeza irônica de que, não importa onde, como ou com quem esteja, ela sempre voltará para mim.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Decisão


Faz alguns dias ele resolveu aceitar a companhia, a amizade e o carinho. Resolveu aceitar que passado a gente não esquece, mas presente a gente é que escolhe. Ele entendeu que problema que a gente inventa é a gente que resolve. E ele resolveu. Assumiu o afeto escondido (pois amor não se esconde, irremediavelmente). E decidiu aceitar. Depois de muito pensar ele decidiu dar uma chance a isso. E a ele,principalmente. Arrumou o coração e permitiu os prós de uma companhia, a despeito dos contras. É o preço do amor e ele resolveu pagar. Aceitou o sono compartilhado, aceitou as dificuldades e as delícias da companhia constante, aceitou dividir os planos, o cansaço e outras coisinhas. Amor quando acontece é assim: sem desculpas. Ele entendeu que alegria pode ser escolha e não sorte. E que quando a gente não encontra paz em alguém a gente se faz a paz de alguém. Ele descobriu que a gente pode ser o lugar de repouso que tanto procura. E ele anda todo feliz desde o dia que escolheu que assim seria! Ele aceitou, resolveu, decidiu: ia ser amado. E ponto final.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Teimosia



Em um silêncio maior de todos os tempos, reconheço-me e passo a aceitar o que é necessário de mim. Há toda uma leveza em meu olhar por agora entender o tudo que os outros podem me doar. É menos do que eu esperava, mas é tudo que eles podem. A mim só cabe escolher entre renegar ou aceitar a parte que me cabe. Corro agora trás do meu sorriso, o que se perdeu antes desta descoberta. Aquele que não esperava nada, porque não precisava. Agora  quero de volta para ensinar que  deve permanecer ‘apesar de’, e assim será muito bom para todos nós. Ainda bastante perplexo com as loucuras que tem acontecido com meus dias e meus amores, coloco-me em resignação absoluta de quem não pode modificar o futuro, mas tem algum poder de mudar o presente, como sempre é possível através das escolhas. Minha escolha é honrar minha existência com a revolta no espírito que me conduz a teimar e ser diferente do que me é imposto. Teimosia sempre foi meu maior defeito/qualidade. Sempre foi o que me fez errar, mas o que me fez acertar. Sempre paguei alto por insistir em ser assim. Mas não poderia ter acertado jamais se não consentisse em errar outras vezes. Tento ser generoso não por bondade, mas por teimosia. Se o óbvio é me tornar frio e cínico depois de traído pela vida, teimo e decido oferecer aos outros o que não ofereceram para mim. Nada de beneficência, teimosia pura. Teimar não é meu. Sou eu. Vou teimar com quem cruzar meu caminho, e procurar viver uma relação diferente e sempre fugir do que é previsível. Não é desprendimento, é teimosia. Foi por teimosia que eu disse que ninguém tiraria meus sonhos. Não foi persistência, foi teimosia. E teimo e insisto em acreditar, sabendo que vou e posso me decepcionar. E se isso acontecer, teimo em esquecer e esqueço. Sempre foi assim.

Aqui comigo

Vem, pode vir. Chega mais perto. Senta aqui. Aqui comigo. Prometo o silêncio, se melhor for. As palavras, se as desejares. Deixa realizar meu desejo de cuidar de você. Não é altruísmo, embora possa disfarçar-se disso. Sei lá... Pode até ser um egoísmo pequeno. Ou grande. Porque cuidar de você faz eu ficar tão bem. Então disfarçado de altruísmo fica perfeito pra nós dois. Melhor assim. Se isso for algum egoísmo, imagino que ser egoísta pode fazer bem. Então como seria um contraste, cria outro nome pra isso. Chama como você quiser, eu desejar cuidar de você por amor a mim e beneficiá-la com isso também. Não chama de egoísmo, nem de altruísmo. Melhor: não chama. Mas vem.