sábado, 30 de junho de 2012

O abraço

Do alto de um silêncio perturbador, falar nada adiantaria. As palavras daqui só saem pelo toque, transmissão instantânea ao abraço, ao aperto, ao contato. Se não podes ter contato, não poderias entender. Não poderia entender o calor de um sonho enterrado vivo, que se debate e como último recurso para causar piedade, chora. Chora gritando, clamando, implorando, suplicando para não morrer. Há dor maior em vê-lo chorar do que vê-lo morrer. A um sonho assim deveria ser proibido matar. Crime, é um crime. Mas que se faz? Enterra-o e vela-o em silêncio, silêncio de anos, silêncio de uma vida. Uma noite dessas o deixei lá, e segui. E não posso esquecer aquele pedido, aquele clamor, aquela chance – a que ele não teve. Sei que não entendes o que essas palavras te dizem. Neste silêncio um abraço te contaria melhor. Este abraço, este mesmo, o que não podes me dar.

O anjo mais velho



Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar. A cena repete, a cena se inverte, enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar. Tua palavra, tua história, tua verdade fazendo escola e a tua ausência fazendo silêncio em todo lugar. Metade de mim agora é assim. De um lado a poesia, o verbo, a saudade. Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim. E o fim é belo, incerto. Depende de como você vê o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só. Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você. Só enquanto eu respirar.







O Teatro Mágico

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Amor em um paragráfo

E daí se a gente sofre? No final não é isso que importa, mas o fim. O fim não de término, o fim de final feliz daqueles que fazem qualquer criança acreditar em absolutamente qualquer coisa. E adultos também, às vezes. O fim de final de livro e de filme água com açúcar. Aquele que faz um adulto descrente do amor acreditar em tudo que ele ainda nem viveu só porque parece bom demais pelo pouquinho que já passou. O amor não é fácil; é delicioso, mas não é fácil. A gente sofre mesmo quando ama. Alguma coisinha sempre vai estar fora do lugar; um mau humor, uma briga, uma semana puxada, gente botando agouro, até mesmo pessoas que não sabem se somos bons, ruins ou mais ou menos. Gente querendo mandar não amar. Então a gente sofre e às vezes erra feio, faz cagada mesmo. E bate na testa pensando um “puta que pariu” bem grande. Mas continua sendo amor. E amor, quando é amor, não descuida e não repele, não diz que chega porque na verdade nunca chega, não cansa dos erros porque os acertos são muito maiores e mais bonitos, por menores que sejam. É contraditório, como tudo no amor tende a ser. Um dia inteiro na cama, em silêncio, sem graça, pode ser a coisa mais linda de uma vida inteira se for amor. E se você adicionar um olhar e um sussurro dizendo “eu te amo”, derruba qualquer parede. E aí, ainda se for amor, isso vai pesar mais na balança do que qualquer uma das coisas ruins. A gente sabe que coisas ruins acontecem aos trancos e barrancos, com velocidade e intensidade. Às vezes quebra um pouquinho da confiança, enfeia um pouquinho da beleza, suja um pouquinho o brilho, maltrata um pouquinho o coração. Às vezes não é só um pouquinho, mas muito que se quebra por causa das coisinhas ruins. De uma só delas ou de um conjunto. E aí parece o fim, aquele de término mesmo. Parece que não tem mais jeito, que acabou, que não tem volta, que aquele horóscopo no qual você nunca acreditou estava certo o tempo todo sobre a tal inquietação emocional, que todo mundo também estava certo quando dizia “tô avisando que você merece alguém melhor”, que pelo-amor-de-qualquer-coisa-que-você-acredite suma da minha frente, que não quer mais, não gosta mais, não suporta mais e tudo mais. Tudo de ruim. Às vezes você cansa pra caramba e tudo que quer é dizer foda-se, cansei, não dá mais, vá embora da minha vida, suma da minha frente. E às vezes acaba aí no foda-se mesmo. Fim. Se não for amor. Se for amor a história é outra. É carregada com um bom tanto de sofrimento para depois voltar a ser aquele fantástico mundo mágico onde um botão de rosa vale mais do que qualquer presente e onde beijo não é beijo, é entrega. Abraço não é abraço, é cuidado, proteção e carinho. Sorrir não é sorrir, é iluminar e deixar feliz justamente quem te fez sorrir. Dizer “eu te amo” não é dizer “eu te amo”, é dizer “eu te amo, você é o amor da minha vida e eu te quero pra sempre do meu lado... mesmo que às vezes eu seja estúpido ou que o mundo inteiro esteja contra nós”. Se for amor a luta vale a pena e as batalhas perdidas são ignoradas. A vida pode até parar por algum tempo pra recuperar o motor. E enquanto isso você acha de novo todas as mil coisas ruins porque está sozinho e sozinho fica tudo mais confuso. Você deixou seu amor, largou de vez, já faz um tempo. Mas, se era amor, fica mais confuso ainda. E dói. Dói lá dentro, mesmo que você fique em frente ao espelho dizendo que odeia a pessoa. Porque você não odeia, só quer odiar. E querendo odiar você consegue dizer coisas cruéis, mesmo amando. Porque você tem quase certeza que não ama mais e que a pessoa não merece mais mesmo. Você tem certeza porque está esgotado, a vida não facilita e você cansou de ir contra a maré. Mas, poxa, era amor. E não dos pequenos. Era amor dos grandes, de roteiro de filme. Talvez até seja daí que venham as dificuldades. E você sabe que não foi mentira. Que não foi falso. Amor é difícil de fingir e você não é ator. E então você sente saudade. Sente saudade do olhar, do cheiro, do toque, da voz, do jeito único que só seu amor tem e como só ele sabe realmente fazer você feliz com poucos recursos. Você sente um vazio enorme no corpo porque falta alguma coisa. Alguém. O dia fica estranho porque faltam os costumes tão rotineiros. Quando é amor as cabeças se fundem e pensam juntas, mesmo que briguem um pouco por opiniões diferentes. Ou briguem muito. Tanto faz. Se for amor. Amor pode ser abalado como qualquer outro sentimento, mas é mais forte e consegue reparar os danos. Sempre se restaura. Pode parecer que não – e, se você quiser, consegue deixar parecer que não para sempre, como se tudo fosse irrecuperável e não valesse mais nada – mas consegue. Consegue porque amor não dá pra abandonar definitivamente. Não tem como enjoar porque você sempre quer um pouquinho mais do gostinho do amor. Você quer puxar e não empurrar. Você quer ser feliz, fazer feliz e continuar feliz. Então você pode cansar e enlouquecer um pouco e ter um bom tanto de certeza errônea e não querer mais por um tempo. E as coisas podem ficar bem durante esse tempo. A vida de solteiro é bacana; dá pra festar, olhar pra outras bundas, jogar a aliança fora e fazer exatamente o que você quiser com todas as horas do dia. Dá até pra conversar com aquela outra guria. Às vezes esse tempo pode ser longo. Mas, se for amor, vai chegar a hora em que você vai acordar de madrugada, ou nem vai conseguir dormir, pensando no seu amor. Em como jogou tudo fora e como, meses mais tarde, isso se escancara como uma puta erro, mas só depois de você passar bastante tempo sozinho curtindo do seu jeito e sem ninguém buzinar no seu ouvido que você merecia alguém bem melhor e ai, ai, ai, manda essa menina embora ou. Ou. Duas letras que estragam tudo. E lá, bem depois, quando você acordar de madrugada ou não conseguir dormir, vai relembrar tantos momentos, mas tantos mesmo, que vai parecer até uma vida paralela. Mas não é. É seu amor. Aquele que não pode deixar de existir, sumir ou tirar férias porque é pra valer. Ele pode aquiescer ou ficar escondidinho onde você o colocar. Mas nos momentos em que a solidão bate, ele volta com força. Porque amor é antônimo de solidão. E amor não tem sinônimo nenhum. Amor é amor e só. Contente-se. Quando você menos esperar ele vai ser o suficiente e vai valer todas as dores de cabeça e incômodos tristes. E quando o amor voltar, você vai querer correr. Talvez pra fugir, talvez pra encarar. E talvez seja tarde, você vai pensar. Não, nunca é tarde para aquele amor. Ele espera. Sempre espera. E então, enquanto relembra os momentos de alegria e silêncio gostoso que viveu, você vai perceber que os tropeços não foram tão dramáticos quanto pareceram na época. E aí vai de você escolher se volta ou não. Pode continuar sua vida e encontrar outra pessoa, mas nunca será a mesma coisa. Pode seguir em frente sem olhar pra trás. Talvez você consiga. Mas o amor só vai, mais uma vez, ficar escondidinho pra doer mais tarde em outro momento qualquer e te chamar de burro na cara dura. Então, se você tiver oportunidade, corra rápido atrás do amor e diga tudo. Ou nada. Porque o amor se explica sozinho. Para você basta a parte de esquecer as mágoas e agigantar o amor de novo. Deixar que ele se solte e simplesmente seja. Ele nasceu pra ser e fica mais bonito quando não podado de tempo em tempo. Mas pode renascer das cinzas, como uma fênix, tão lindo quanto, porque as cinzas estarão ali pra sempre. Você volta lá no ponto em que alguma coisa se perdeu e te fez ir embora e encontra essa alguma coisa. E não diz nada, só abre um sorriso inseguro. Basta. O sorriso já basta. Porque o amor esteve te esperando todo esse tempo, padecendo de solidão e tristeza, mas confiante. E assim que te enxergar, sorrindo inseguro sem mala nas mãos, só com a roupa do corpo e a vontade de recolocar o trem nos trilhos, ele vai abrir os braços, sorrir firme e fechar os olhos. E quando você entrar no abraço e o mundo parecer acabar ali, os flashes vão pulular na sua cabeça e seu coração vai estar à beira de explodir de tanta felicidade. E o amor vai chorar contidamente. Chorar porque você voltou. E só nesse momento, depois de sabe-se lá quanto tempo você perdeu – sim, todas as horas que você deixa de viver seu amor é tempo perdido para sempre – ele vai conseguir respirar novamente. Inflar o peito e soltar um suspiro de alívio. Vai poder acordar, achar o dia bonito e lembrar que a vida é mais do que as quatro paredes da solidão e do abandono em que esteve preso. E, ainda durante o abraço, ele vai voltar a pulsar como há tempos não fazia. E você vai sentir. Porque o amor vai pulsar em você, dentro do seu corpo. E aí sim vai ser tarde demais. Tarde demais pra impor os limites que você vinha impondo. O amor vai correr livre. Feliz. Mas sempre em círculos, em volta de você, porque o amor não foge. Nunca. Nem se armar temporal e o varal estiver cheio. O amor sabe que o temporal vai passar sem fazer grandes estragos. As vezes cai uma telha, a gente perde o chão. Mas depois ajeita. O amor confia desde o começo. Amor é simplesmente amor e não tem fim, mas talvez você leve muito mais tempo pra perceber. E se foi amor e agora você acha que não é mais, não era amor. Pode ter sido uma paixonite ou algo assim, mas amor não. Porque amor não acaba. Nem quando a distância mete o dedo onde não deve. Nem quando o atrito vem forte demais. O amor sobrevive. Confundir paixão que passa com amor que fica é cruel com a outra pessoa que ama. Mas, se era mesmo amor e você estiver pensando que não e jurando pra todos e pra si mesmo que não, que era tudo menos do que parecia, que nada foi real e tão intenso assim, você está fazendo a maior cagada da sua vida. Merda das feias mesmo. Está chutando quem te via como o sonho de uma vida. O sonho de futuro. De para sempre. Está abrindo mão da pessoa que tinha todas as ferramentas na bagagem pra estar ao seu lado aonde quer que você fosse. E toda a vontade possível também. Pra entender seus sonhos e vontades. Pra te segurar quando você estivesse caindo. Pra comemorar quando estivesse no topo. Pra secar suas lágrimas e provocar suas gargalhadas. Você está jogando fora o amor. Aquela a quem você mesmo ensinou que amor existe, que não é conto de fadas. E que pode ser muito, muito forte. Tão forte que pode mudar todas as concepções que antes eram rígidas. E amor não se joga fora, mas se você não perceber, vai aprender só muito mais tarde o que no começo queria ensinar. Que amor supera. Barreiras, destroços, distância, tempestade. Que o amor dá conta. Era nisso que você acreditava, era por isso que chorava e sorria e foi isso que escapou porque você deixou. Mais do que isso, porque você mandou. E o amor, resignado a fazer tudo por você, obedeceu e foi embora. Deixando o coração e a alma ali, mas foi embora. E só quando a juventude já tiver sumido e a falta for a coisa mais dura da sua vida, você vai entender que amor não se cospe pra cima, porque o cuspe pode cair de tabefe no chão e não de volta em você. E jamais se fecha a porta na cara dele, como você fez. Porque o amor fica escondidinho e dormindo quando mandam e não morre, mas pode entrar em coma profundo. E, então, você perdeu. Ele esteve sempre ali, mas você perdeu porque quis. Por birra. Por achar que dava pra viver sem ele, mesmo depois de uma história inteira construída. E linda. E... verdadeira? Você perdeu e o silenciou para sempre, ainda que ele tenha tentado voltar. Ele suportou toda a rejeição possível, mas ficou doente. Amor adoece. Muito, às vezes. Severamente. Mas, se você for perspicaz, vai encontrar a cura onde menos espera. Dentro de você e dentro dos olhos do outro lado do amor. E vai lutar. Vai fazer quantas ressuscitações cardíacas forem necessárias pra vê-lo abrir as pálpebras de novo. Ele volta. O amor sempre volta quando é amor. E apanha quanto precisar, até estar virado em trapo e sangue. Apanha pra valer. Desde que você saiba exatamente a hora de parar de bater e botar no colo pra cuidar. Amor verdadeiro é infinito e há de eterno, mas é uma criança que não sabe viver sozinha e tem que ser carregada pela mão pra atravessar a rua. Amor verdadeiro deixa a pessoa meio louca, mas vale a pena. Porque amor não é pra todo mundo. Amor escolhe a dedo onde existir. Escolhe com cuidado o lugar onde vai se instalar pra sempre, desde que você não o mande embora. Se ele puder ficar, ele será o amor. E, provavelmente, a melhor coisa que já te aconteceu na vida. Amor é só amor, mas é tanta coisa aí dentro das quatro letras que a gente gagueja e não sabe nem por onde começar. É grande demais. É sofrido demais. Mas é maravilhoso, porque no amor um abraço cura tudo e o quentinho do colo acalma as dores. Então, no fim das contas, eu até consigo escrever o amor em um parágrafo. Mesmo depois de tudo. Mesmo depois de ter visto ele ser jogado na lata de lixo. Consigo escrever em um parágrafo. Mas tem que ser longo, muito longo, cheio de desdobramentos. Senão não cabe. Não encaixa. E amor tem que encaixar. E se encaixar você tem uma vida inteira pela frente pra descobrir. E se surpreender. Porque amor é surpresa e, ao mesmo tempo, a estabilidade e a certeza mais intrínseca em você. Mas tem que encaixar. Precisa mesmo encaixar e só encaixa uma vez na vida, com a pessoa que o amor escolher. Se encaixar tá tudo certo. E daí se a gente sofre? No final não é nem o fim que importa, é só o amor e por quem ele te faz tombar de felicidade. Ou tristeza. É o amor.

Deve ser...



Se amor existe...

Deve ser preocupar-se e querer bem com carinho sempre, sem egoísmo ou esperas. Deve ser essa amizade abnegada de quem gosta sem reservas. Deve ser esse respeito pela individualidade, essa troca contínua, tranqüila e grande. Deve ser o toque das mãos e o abraço de alma. Deve ser compartilhar e compreender, mesmo quando não se entende. Deve ser essa afeição sincera e pura. Essa vontade de estar junto e deixar livre, concomitantemente. Amor deve ser estar em companhia por prazer sempre. Amor deve ser esse respeito e cuidar constante. Deve ser essa proteção abnegada. Deve ser esse altruísmo, que sabe bem, será correspondido. Amor deve ser esse dom, essa escolha, esse presente. Amor deve ser isso que existe desde sempre, por desígnio. Por destino e vida. Amor deve ser essa certeza que, gratuitamente, será companhia para sempre.

...deve ser isso.

Solidão



...a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre.

Vinícius de Moraes in Para viver um grande amor



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um caminho para terra do nunca



Acho que ninguém lembrou de dizer para ele, em algum momento, que ele poderia fazer diferente. Poderia ir fazer um curso, dançar só nas festas da turma, ou nada disso. Esqueceram de dizer que ele não era mais obrigado. Poderia seguir uma rotina comum, de gente comum. Acho que esqueceram de avisar que se ele não quisesse mais aquela vida, poderia parar. Seu pai não mais o puniria por isso. Acho que esqueceram de dizer que ele não deveria fazer o que eles não podiam fazer. Não poderia ter um parque, nem gastar os milhões que ele, e somente ele, lutou para conseguir, da forma que ele desejasse. Acho que esqueceram de dizer que no mundo de gente grande ter desejos lúdicos é pecado. Tentar ser feliz então, nem se fala, uma afronta. Ser feliz? Isso nem se discute, para os adultos isso não existe. Não se tem tempo para isso, ora! Acho que não disseram para ele que não adiantava explicar, se, mesmo tendo suas verdades, eram as mentiras que eles queriam. Não importava que o acidente tivesse queimado seu cabelo, quebrado seu nariz ou mudado sua cor. Esqueceram de avisar também que, se fosse só vaidade mesmo, ele não devia explicações a ninguém. Talvez se ele fosse um legítimo adulto, que colecionasse relações grotescas com mulheres e/ou homens e/ou drogas e/ou bebidas, tudo estaria certo. Se ao menos ele guardasse todo o dinheiro do seu trabalho ou doasse, mais ainda, para as crianças carentes – aquelas por quem eles mesmos não faziam nada além de fingir preocupação. Mas, não. Ele pecou muito, muito mesmo. Gastou do que ganhou, o que quis, como quis. Brilhou, indiscutivelmente. Gostava de bichos, brinquedos e crianças. E, além de tudo isso, encontrou um caminho para a Terra do Nunca. Mas, por fim, ninguém o avisou que ele poderia ficar tranqüilo, o problema não estava nele. O problema era que ele tinha talento demais, dinheiro demais, possibilidades demais, sucesso demais e luz demais e - estivesse errado ou não, pecando ou não - ele precisava pagar. Porque eles não tinham.